Qua, 06 de março de 2024, 16:08

Discurso do reitor - Título Doutor Honoris Causa a Véio
Valter Santana

Há algumas semanas, tivemos notícia de que nossa Universidade foi reconhecida pelo MEC como instituição de conceito institucional máximo. Éramos nota 3 e agora somos 5.

A alegria ao receber a notícia, depois de muita tensão e trabalho de toda a equipe da gestão, foi muito grande. Certamente não teríamos sucesso sem que docentes, discentes e a equipe técnica tivessem se envolvido com muita intensidade.

Mas com a satisfação vem a responsabilidade em manter o conceito obtido e o trabalho de seguir expandindo os nossos serviços e melhorando a nossa instituição.

É claro que o fato de uma instituição de Sergipe, o menor estado da federação, e de uma universidade do Nordeste, considerada pequena, receber o conceito máximo realmente gera assombro. Parece até que incomoda alguns. Houve gente que perguntou: “O que a UFS tem para merecer a nota máxima?”

Pois bem. Senhoras e senhores, a partir de hoje eu darei como resposta: entre outras coisas, a UFS tem Veio como um dos seus doutores! Penso que a justificativa está de bom tamanho!


Valter Santana durante solenidade de entrega do título Doutor Honoris Causa a Véio. (foto: Schirlene Reis/Ascom UFS)
Valter Santana durante solenidade de entrega do título Doutor Honoris Causa a Véio. (foto: Schirlene Reis/Ascom UFS)

Pois bem, Senhoras e Senhores, a partir de hoje eu darei como resposta: Entre outras coisas, a UFS tem Véio como um dos seus doutores! Penso que a justificativa está de bom tamanho!

A riqueza cultural de uma região não apenas reflete sua história e identidade, mas também fortalece os laços entre seus habitantes, promovendo um senso de pertencimento, orgulho e valorização. Em Sergipe, essa riqueza cultural é vasta e diversificada, permeando todas as esferas da vida cotidiana e enriquecendo a experiência dos sergipanos. Nesse contexto, as obras de artistas locais, como Cícero Alves do Santos, ou apenas Véio, desempenham um papel fundamental.

Véio é um mestre na arte popular sergipana. Suas esculturas retratam o cotidiano, os costumes, os casos e as lendas do povo nordestino e da cultura sertaneja. De forma autêntica, suas obras carregam consigo não apenas a habilidade técnica do artista, mas também uma narrativa profunda sobre a cultura e a história de Sergipe.

Ao valorizar e promover as obras de artistas como Cícero Alves do Santos, os sergipanos não só reconhecem o talento da arte local, mas também preservam e enaltecem uma parte importante de sua própria identidade cultural. As esculturas de Véio não são apenas objetos de arte, são testemunhos vivos da rica tradição cultural e do modo de vida do povo sergipano.

Poderíamos ir além, e dizer que as obras de Veio são também lembretes a todos nós: são lembranças e denúncias de um sertão sofredor, de um mundo árido não apenas no clima, mas nas relações sociais, na ausência por longo tempo sentida da ação do Estado, das dificuldades para viver, na dificuldade até mesmo para sonhar.

Nesse sentido, a UFS vem desempenhando um papel de destaque, seja na preservação e difusão de práticas artísticas, no incentivo aos festivais de arte de São Cristóvão e Laranjeiras, na feira do livro de Itabaiana, entre outros. E no caso de Véio, genuíno artífice da cultura sergipana, temos a grande honra em homenageá-lo com o título “Doutor Honoris Causa”.

Ao reconhecer e celebrar artistas como Cícero Alves do Santos, os sergipanos estão perpetuando uma herança cultural preciosa para as gerações futuras, garantindo que a essência da arte e da cultura de Sergipe continuem a brilhar através de suas expressões artísticas. E é um orgulho afirmar que a UFS se coloca como protagonista em tão importante tarefa.

Temos realizado diversas iniciativas voltadas à valorização das artes, tais como exposições, feiras, cursos, e também do reconhecimento da cultura popular, com a entrega dos títulos de Mestres em Saberes e Fazeres em outras solenidades.

Nos últimos anos, tive a honra de entregar a personagens de destaque no campo da cultura o título de Doutor Honoris Causa. Foi assim com o nosso querido Severo D’Acelino, em 2021, e o mesmo ocorreu com Martinho da Vila, em 2023. Agora, me alegro mais uma vez ao testemunhar que Véio se juntará a eles e a tantos outros nomes que hoje orgulham a UFS.

Ao outorgar o título de Doutor Honoris Causa, a UFS reverencia um saber diferente, rico, complexo, algo produzido por alguém que inegavelmente contribuiu para as artes ou para a ciência.

Nesse sentido, ao homenagear Véio, a UFS simbolicamente reconhece a força e a qualidade da arte sertaneja. Ou melhor dizendo, da arte produzida no sertão. Porque arte não se limita a coordenadas geográficas, ela pode e deve ser experimentada em todos os cantos do mundo.

Que seja assim com a arte de Véio. Que as suas produções possam seguir abismando, encantando, emocionando, intrigando não só os sergipanos, mas todo aquele que, como escreveu Zé Ramalho, prefira “um galope soberano à loucura do Mundo”.

É o que Veio e sua arte nos oferecem. Artista e obra nos ensinam que há alternativas ao mundo louco dos nossos dias. Um mundo com guerras, fome, desigualdades sociais, preconceitos de todo tipo, crises políticas, deformações preocupantes da ideia de liberdade e, em alguns casos, com o uso seletivo da ideia de democracia.

Senhoras e Senhores, a UFS teve, tem e terá um incontornável papel social.

Luiz Gonzaga, que tanto orgulhou o Nordeste, certa vez lembrou que “Tudo temos de primeira, sim/Valor humano/Gente honesta e ordeira também”. Para ele, o povo sertanejo precisava apenas de uma chance e atenção dos governantes.

Agora, encravada no sertão, em breve com uma sede própria que deveremos entregar, como uma prova das palavras de Luiz Gonzaga, a UFS tem ajudado a transformar paisagens, a mudar trajetórias, a não só alimentar sonhos, mas sobretudo a fornecer as condições para realizá-los.

A todos e todas que sonham uma vida melhor para o povo sertanejo, a quem acredita no potencial transformador da educação, para aqueles que se orgulham da Universidade Federal de Sergipe, reafirmo o nosso orgulho em homenagear o homem cuja arte nos ensina sobre a importância da humildade, da persistência e da beleza das coisas da vida. Por isso, peço uma salva de palmas ao nosso mais novo Doutor, o Dr. Cícero Alves do Santos, o Dr. Véio!


Atualizado em: Sex, 08 de março de 2024, 16:14
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