Qua, 11 de setembro de 2013, 07:30

Homenagem ao amigo Antônio Carlos
Homenagem ao amigo Antônio Carlos

Maria José dos Santos



ANTONIO CARLOS, arquétipo de amizade e de uma autêntica vida acadêmica


O que falar diante do inesperado, inevitável e atávico destino que nos conduz aos extremos da existência: vida e morte?


A morte tem algo de positivo? Ela nos faz refletir o quanto somos vulneráveis e o quanto é frágil o nosso corpo físico. Faz-nos perceber que as virtudes são infinitamente superiores às possíveis falhas que cometemos e que nos fazem humanos. Assim somos nós.


Nós éramos amigos e o fomos por breves 33 anos, 7 meses e 31 dias. Breve porque todos - família, amigos, companheiros de trabalho e discípulos ainda tínhamos tanto a compartilhar.


Ao longo da vida conquistamos amigos de trabalho, amigos de fé, amigos de alma. Éramos irmãos de alma porque prescindiam os bens materiais não importando o tempo, fronteiras nem distância.


Tínhamos uma amizade muito especial iniciada ao nos conhecermos na Universidade e, aos descobrirmos que éramos sócios de um mesmo clube, o Clube do Livro. Por compartilharmos o gosto pela leitura, pelo cinema e por perscrutar e refletir sobre razão, vida, política, sofrimento, realização. Trocávamos livros, conhecimento. Filmes... Dersu Uzala, Ran, Sonhos e Retratos da Vida. Livros... O Tao da Física, Toda Poesia, Os Sertões, O Ponto de Mutação. Grandes autores... Schopenhauer, Machado de Assis, Nietzsche, Graciliano Ramos, só para exemplificar.


Antonio Carlos, eu havia escrito um pequeno texto que não deu tempo para que você o lesse. Não pensei que a sua viagem para o lar espiritual estivesse tão próxima!


Penso que onde estiver poderá “ler” o que escrevi.


A amizade, como o amor, é paciente e solidária. Ainda que silenciosa, a presença amiga tem um significado, um querer-bem em ondas que se avolumam, fortalecem, energizam.


A verdadeira amizade não se dimensiona nem se mede. Ela é suave, intensa e luminosa. Singra mares, oceanos, desertos e, inexoravelmente, vai deixando suas pegadas profundas qual desenhos esculpidos a fogo e água em ferro.


Inconfundíveis as mãos amigas acalmam e fazem bem.


A verdadeira amizade serve de eterna amálgama de vidas e almas que prescindem de explicação, apenas existe e segue pela vida tenuamente alinhavada por fios macios qual seda. Amizade que neutraliza arestas, antagonismos e, qual leito macio, nos deixa sobre ela repousar e nos serve de ninho quando necessitamos de descanso e renovação de forças para os percalços que a vida nos apresenta.


Ao singrarmos pelas veredas da vida, por vezes, escolhemos coisas para colecionar, entre estas, o gosto por guardar nas gavetas da memória os belos momentos e detalhes importantes das pessoas e dos momentos que vivenciamos e que seguem, a despeito do tempo e da presença física, magicamente tatuados na alma.


Serão detalhes que guardaremos dentro de nós e que para terceiros poderão não ter importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los. Poderá ser uma música, um livro, uma poesia, uma carta. Poderá ser um pôr de sol, uma pétala de rosa que se recebeu ou uma palavra amiga num momento necessário.


O verdadeiro amigo não espera o chamado, se apresenta.


Quando encontramos um verdadeiro amigo entendemos o silêncio, buscamos reviver cada instante compartilhado e ouvir a alma que vai além da vida e de tudo o que, no plano terreno, podemos perceber.


Então, conte comigo amigo.


Então, contarei sempre contigo, meu eterno amigo.


Professor e Mestre, Antonio Carlos foi um ser pensante, com uma existência dedicada à Academia e à ligação entre a Humanidade e o Cosmo mediada pela busca constante da eficiência e do saber na tentativa incansável pelo desvio do mal e pela alegria da contemplação do belo, da estética da natureza como bálsamo para superação dos males do corpo e da alma.


Então louvo a sua ética profissional e a honradez com a qual conduziu a vocação pelo ofício de ensinar, servir de exemplo e tornar-se um verdadeiro Mestre.


Louvo a sua existência e agradeço a Deus por tê-lo conhecido.



Escrito em homenagem ao Mestre Antonio Carlos Carvalho Barreto, emérito professor da Universidade Federal de Sergipe.



MARIA JOSÉ DOS SANTOS


Química/Pesquisadora do DBI/UFS



Atualizado em: Qua, 11 de setembro de 2013, 07:34