Qui, 14 de abril de 2022, 13:40

Campus de Itabaiana inicia processo de retirada de 43 árvores e fará replantio com mudas nativas
Espécies exóticas, plantas em local inadequado e outras em perigo de queda representavam risco à vida e às edificações
Fotos: Adilson Andrade/AscomUFS
Fotos: Adilson Andrade/AscomUFS

Eles já estavam lá. Monumentais pés de ficus com suas folhas verde-brilhantes e suas raízes expostas e retorcidas já marcavam a paisagem do campus Prof. Alberto Carvalho quando a Universidade Federal de Sergipe ali se fixou, há 15 anos, no espaço herdado do antigo CAIC.

Mas toda essa formosura natural estava no lugar errado. Trazido da Ásia, o Ficus benjamina teve seu uso popularizado na arborização urbana do Brasil em razão de sua sombra, crescimento rápido e beleza. Contudo, não foram calculados os transtornos que essa espécie exótica poderia trazer.

Um laudo produzido pelo Departamento de Gestão Ambiental e Segurança do Trabalho (DGASET) da UFS sobre as árvores do campus de Itabaiana constata que há raízes promovendo rachaduras e infiltrações nos edifícios, invadindo canais de drenagem, canaletas de esgoto e subindo até pelo vaso sanitário.


Professor Marcos Meiado, do Departamento de Biologia do Campus de Itabaiana
Professor Marcos Meiado, do Departamento de Biologia do Campus de Itabaiana

“Quando trouxeram a planta, as pessoas não sabiam do comportamento agressivo que seu sistema de raízes possui. Ela cresce muito e tem um crescimento muito rápido, e as raízes acabam danificando muros e crescendo em direção às tubulações”, explica o professor Marcos Meiado, do Departamento de Biociências de Itabaiana.

Ele tem alertado para os problemas que podem ser causados por essa e outras espécies presentes no Campus, como o chamado “neem”, Azadirachta indica, outra asiática que se popularizou na arborização das cidades brasileiras.

“O neem é outra espécie que não é nativa e ainda tem o problema de ser tóxica para os animais daqui, como as abelhas; toda espécie exótica acaba causando dano para a vegetação e a fauna nativa. Sempre que alguém traz uma espécie para o Brasil, traz na maior boa intenção, mas acaba saindo errado”, completa.

Cortando pela raiz

Para contornar os problemas atuais e as ameaças futuras trazidas pelo plantio inadvertido de plantas exóticas, de espécies plantadas em local inadequado, ou ainda de árvores cujo risco de queda ou quebra de galhos apresente ameaça à vida humana ou às edificações, o DGASET solicitou à prefeitura de Itabaiana a autorização para a retirada de um total de 43 árvores do campus.


Laudo do DGASET apontou árvores cujas raízes estavam promovendo rachaduras e infiltrações nos edifícios, invadindo canais de drenagem, canaletas de esgoto e sanitários
Laudo do DGASET apontou árvores cujas raízes estavam promovendo rachaduras e infiltrações nos edifícios, invadindo canais de drenagem, canaletas de esgoto e sanitários

A retirada começou a ser feita em meados de março e chegou a dez pés de ficus. “É um trabalho delicado, cuja retirada tem de ser devagar, porque envolve o destelhamento, instalação de plataforma elevatória, retirando de pedaço a pedaço, de cima a baixo”, conta o professor Genésio Ribeiro, engenheiro florestal responsável pelo DGASET.

Em razão da complexidade do serviço e do barulho causado, o diretor do campus de Itabaiana, professor Victor Sarmento, explica que “a atividade foi suspensa e será retomada durante o recesso letivo, para evitar que a comunidade acadêmica tenha de conviver com o barulho da motosserra e os transtornos que essa retirada acarreta”.

Raízes mortas

Cortadas as árvores, é preciso garantir que o processo de rebrota não ocorra. Genésio explica que “será aplicado um herbicida que impede que a árvore renasça, cresça e continue espalhando suas raízes”.

Mas, com muitos metros de altura, essas árvores que começam a ser retiradas em Itabaiana impõem uma preocupação adicional quanto ao solo, isso porque estima-se que toda árvore tenha um sistema de raízes que chegue a atingir de sete a dez vezes o tamanho de sua copa.


Retirada de árvores iniciou em meados de maio e será retomada durante recesso letivo
Retirada de árvores iniciou em meados de maio e será retomada durante recesso letivo

Genésio conta que as raízes das árvores retiradas permanecerão para que se decomponham de forma lenta e natural, não afetando a estabilidade do terreno. Além disso, “serão paulatinamente substituídas por novas árvores cujas raízes ocuparão o lugar dessas que estão mortas”.

“Essa substituição, essa readequação envolve muito mais do que tirar essa parte que a gente está vendo, essa parte de cima. Precisa ter esse cuidado com a reintrodução de novas árvores, ou então colocar solo no lugar, porque se nada disso for feito podemos ter problemas daqui a alguns anos”, explica o professor Meiado.

Novas raízes

Uma vez que os tocos permanecerão, o projeto do DGASET é plantar novas espécies justamente entre os espaços que haviam entre as árvores antigas. "Nossa ideia é plantar logo, aproveitando o período da chuva, e plantar espécies mais adequadas para o ambiente, considerando a proximidade com as edificações”, relata Genésio.


Genésio Ribeiro, responsável pelo Departamento de Gestão Ambiental e Segurança do Trabalho da UFS (DGASET), explica que replantio se dará com espécies floríferas locais e frutíferas (Foto: Pedro Ramos/Ascom UFS)
Genésio Ribeiro, responsável pelo Departamento de Gestão Ambiental e Segurança do Trabalho da UFS (DGASET), explica que replantio se dará com espécies floríferas locais e frutíferas (Foto: Pedro Ramos/Ascom UFS)

As mudas virão de uma doação da biofábrica do Sergipe Parque Tecnológico (SergipeTec) e serão compostas de espécies floríferas típicas da região e frutíferas, de espécies que não produzam frutos grandes.

O diretor do DGASET explica: “A ideia é termos flores que tragam beleza ao campus e algumas frutas, de que a comunidade possa desfrutar, mas sem o contexto de árvores grandes, como as mangueiras, que podem trazer problemas com o tempo”.

A direção do campus adianta que pretende facultar à comunidade a escolha das novas espécies, dentro da lista de plantas adequadas que será repassada pelo DGASET. “Queremos que a própria comunidade tenha a possibilidade de conhecer e escolher quais as árvores, quais as cores e as frutas, que gostaria de ver no campus e deixar aqui para as futuras gerações”.

Márcio Santana

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qui, 14 de abril de 2022, 16:07