Sex, 22 de julho de 2022, 14:41

Discurso na cerimônia de entrega da Medalha de Incentivo à Ciência e Tecnologia Professor Antônio Tavares de Bragança
Lucindo Quintans
(Foto: Schirlene Reis/AscomUFS)
(Foto: Schirlene Reis/AscomUFS)

Hoje, é um dia muito especial para ciência do estado de Sergipe. Dia de comemoração, honraria, mas também de reflexão.

A histórica cientista, MARIE CURIE, primeira mulher a ser laureada com o Prêmio Nobel e a única a ganhá-lo por duas vezes (em áreas distintas, diga-se de passagem: física e química), dizia que “O caminho para o progresso não é rápido nem fácil”.

Logo ela, que deixou sua marca indelével sobre a radioatividade (termo que ela mesma cunhou), trazendo avanços inquestionáveis para saúde, na indústria, entre outras áreas, faleceu por anemia aplástica, à qual foi relacionada por sua exposição prolongada à radiação.

MARIE, mulher e pesquisadora, entre outros ensinamentos, nos faz refletir sobre os desafios que são impostos à humanidade. Para superá-los, sempre foram necessárias atividade criativa, abnegação, conhecimento e aquilo que os estatunidenses em sua cultura chamam de “commitment”, que é muito mais que comprometimento. É vestir a camisa. É se entregar por inteiro.

A educação, a ciência e a tecnologia e inovação são os principais alicerces para o desenvolvimento, e o “commitment” de uma nação a essas áreas é definidor para um país. Seu futuro depende disso!

Ora, o conhecimento cresceu tanto, ficou tão inter e transdisciplinar, que outras competências têm sido requeridas para se obter o almejado “progresso”. Trabalhar em grupo, com complexas e abrangentes bases de dados, usando técnicas cada vez mais avançadas, muitas vezes caras e de difícil acesso e que ainda exigem vocações específicas, estão dividindo lugar com competências como os “soft skils”, ou seja, habilidades comportamentais relacionadas à maneira como os profissionais lidam com o outro, e consigo mesmo, em diferentes situações. Portanto, os conhecimentos técnicos e científicos necessitam de olhares cada vez mais humanos. É no mínimo paradoxal.

Para se ter uma idéia do desafio, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) “Com a evolução tecnológica, 65% das crianças que estão hoje na escola primária terão empregos* que ainda não existem”.

Ou seja, uma geração que trabalha buscando compreender os limites, ou não, de como os algoritmos vão, cada vez mais, ocupar espaços técnicos e profissões que atualmente são realizadas, necessariamente, devido a presença do homem, que está aprendendo a explorar o metaverso e, ao mesmo tempo, fica maravilhado com as imagens captadas pelo Telescópio Espacial James Webb, é a mesma geração que precisa encontrar soluções para esses novos paradigmas, numa velocidade jamais vista pela humanidade.

O poder da informação e como ela é vinculada tem ajudado a construir soluções em tempo record. O desenvolvimento das vacinas contra a COVID-19 e o próprio enfrentamento da pandemia são exemplos claros de que o compartilhamento de informações científicas e o trabalho em rede multiprofissional, com parceiros dentro e fora da academia, muitas vezes em outros países, são a tônica deste novo mundo. Por outro lado, a integridade científica, a luta contra as fake News e contra o negacionismo científico são batalhas necessárias e devem ser travadas por nossos pesquisadores ao redor do mundo e pelas instituições que defendem a ciência.

Ao mesmo tempo, é inconcebível constatar que a fome cresceu no mundo e já atinge 9,8% da população global, segundo o relatório “Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022”, lançado pela ONU este mês. Assim, a ciência, o conhecimento e a educação precisam trabalhar em favor da redução de assimetrias, em favor da inclusão social e digital, da redução da pobreza, na construção de um mundo e sociedade mais humanos e justos, senão teremos falhado como raça humana e de nada vai adiantar todo desenvolvimento científico que construímos.

Portanto, por questões tão basilares como essas, que é concedida a mais alta honraria do Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS), a Medalha de Incentivo à Ciência e Tecnologia ‘Professor Antônio Tavares de Bragança’, que, além de valorizar, homenageia os esforços de caráter político, técnico, cultural e/ou educacional empreendidos por aqueles que contribuíram e contribuem com o fortalecimento do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do nosso estado. E não poderia ser diferente quando essa medalha se inspira na vida do colega Farmacêutico-Químico, professor universitário e pesquisador, ANTONIO TAVARES DE BRAGANÇA.

Nascido em Laranjeiras/SE, BRAGANÇA foi diplomou como Farmacêutico-Químico pela Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia e iniciou suas atividades profissionais em Sergipe como auxiliar técnico no Instituto de Química Industrial. A partir daí, sua vida como pesquisador tomou corpo, seu papel como professor e formador de recursos humanos ganhou destaque, além de suas contribuições para CT&I, que foram e continuam sendo importantes e inspiradoras para Sergipe. Definitivamente, um homem à frente de seu tempo e que, na busca pelo desenvolvimento do estado, foi incansável na construção do conhecimento novo, fazendo da ciência instrumento para mudar realidades.

Diante disso, agradeço a oportunidade e a honraria concedida a mim, um aprendiz da ciência e, talvez, o menos merecedor dela, e a destacadas ‘Instituições’ e ‘pessoas’ que se fazem presentes aqui. Esses, sim, inquestionáveis merecedores de receber a medalha que leva o nome do nosso patrono e que tanto orgulha Sergipe e o ITPS. Instituições e pessoas inspiradoras, que carregam a expressão “commitment” como missão em suas profícuas carreiras e funções. Assim, queria quebrar o protocolo e pedir a gentileza de uma salva de palmas para essas pessoas e Instituições!

Para encerrar e não atrapalhar o brilhantismo desta festa em celebração da ciência, queria agradecer e parabenizar pela iniciativa todo corpo de profissionais e técnicos que compõe o ITPS, por serem abnegados na função de fazer ciência e, às vezes, em situação até adversa, continuarem sendo um exemplo para outras instituições CT&I de Sergipe. Afinal, valorizar a ciência e as pessoas é construir o futuro, é enxergar que sem ciência não há desenvolvimento. É reconhecer que MARIE e BRANGANÇA se encontram neste momento da história, pois estavam certos em construir o progresso em bases sólidas, alicerçadas nas melhores práticas e no saber científico. Assim, materializo esse agradecimento na pessoa de seu presidente, o engenheiro químico Antônio Carlos Porto de Andrade, carinhosamente chamado de Kaká Andrade, que vem conduzindo o ITPS, buscando construir pontes de relacionamento, abrindo as portas do instituto e, ao mesmo tempo, dialogando com a sociedade sergipana. Construindo, igualmente, parcerias com outras ICTs do Estado, como a UFS, EMBRAPA, UNIT, IFS entre outros, buscando realizar uma ciência sem barreiras, sem muros e, portanto, colaborativa. Parabéns!

Ao valorizar as pessoas e as instituições aqui representadas e homenageadas, o ITPS se inspira, pelo menos em parte, no que disse o economista e cientista político Celso Furtado: “Os três maiores gênios brasileiros, na minha opinião: Aleijadinho, Machado de Assis e Villa-Lobos, só o foram porque foram profundamente brasileiros”. Uma pessoa com deficiência, um mestiço e um filho de imigrantes. Furtado viu que nossa riqueza está na diversidade. Na diversidade de ideias, de povos e culturas, na pluralidade de saberes e na identidade criada dessa diversidade encontramos nossa brasilidade, ou melhor, nossa sergipanidade. Como dizemos aqui em Sergipe, “Fazemos uma ciência retada, uma ciência boa da pega”.

Muito obrigado e, mais uma vez, parabéns aos homenageados!


Atualizado em: Sex, 22 de julho de 2022, 14:44
Notícias UFS