
Umbuzeiro, aroeira, angico e juazeiro. A rica biodiversidade natural da caatinga faz parte do cotidiano de muitas crianças que vivem no semiárido nordestino, mas nem todas elas aprendem sobre esse bioma que raramente é tema dos livros didáticos e da vivência escolar.
No sertão de Sergipe, esta realidade é vivenciada por muitas escolas que encontram desafios didáticos para a aplicação de educação contextualizada como prática de cidadania socioambiental explicada pelo educador e filósofo Paulo Freire como uma aproximação do saber popular e o científico que integra o processo de ensino-aprendizagem. “Não existe saber mais ou saber menos: há saberes diferentes".
O senso comum e o saber científico unidos às práticas pedagógicas integradas ao meio ambiente local fazem parte de ações dos projetos Ação de Educação Ambiental em Nossa Senhora da Glória e Opará: águas do rio São Francisco, ambos realizados pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Em comemoração ao Dia da Árvore, nos dias 20 e 21 de setembro, foi realizada uma ação conjunta de educação ambiental entre os dois projetos que resultou na mobilização de escolas do município de Nossa Senhora da Glória, no alto sertão sergipano para discutir boas práticas de convivência com o semiárido a partir de uma troca de saberes da biodiversidade do bioma da caatinga, solo, clima, flora, recursos hídricos, manejo e uso sustentável deste ecossistema.
“A caatinga tem sido representada com preconceitos e como algo divergente da realidade da criança do semiárido. Por isso é fundamental uma vivência pedagógica de valorização do meio ambiente local e da sua cultura para a formação de novas gerações de cidadãos críticos e politizados comprometidos com o meio ambiente e a sua realidade social”, afirma Mayanne da Costa Alexandre, diretora da Escola Estadual Professora Evangelina Azevedo. “Trazer a universidade para o chão da escola promove a interação de espaços de conhecimentos com concepções pedagógicas diferentes e que se complementam e contribuem para ações socioambientais”, acrescenta.
“Os livros didáticos geralmente são limitados, ignoram o saber popular e não contemplam a contextualização necessária para a transmissão e apreensão do conhecimento sobre o bioma da caatinga”, observa a professora da disciplina de Ciências, Sandra Maria de Santana, da Escola Estadual Padre León Gregório.
De forma lúdica e criativa através do teatro de bonecos de fantoches, estudantes de zootecnia e medicina veterinária do Campus do Sertão de Nossa Senhora da Glória protagonizaram uma peça ambiental sobre a importância da árvore e mata ciliar da região para estimular a participação escolar das crianças e suas famílias para a conservação natural do semiárido. Foi assim que o estudante Jefferson Santos Silva, 9 anos da Escola Municipal Presidente Tancredo Neves aprendeu sobre o ciclo do umbuzeiro e os benefícios das árvores nativas da caatinga. “O umbuzeiro guarda água nas suas raízes e na seca floresce e dá frutos”, diz.
Clívia Heloísa Vieira dos Santos, 10 anos, e Jonatan Rodrigues dos Santos, 8 anos, estudantes da aprenderam na prática o conteúdo das aulas de Ciências sobre as árvores e como preservá-las. “Além de plantar árvores, a água, o ar, as sementes e a terra são importantes para a gente sobreviver”, diz Jonatan, que gostou de saber mais sobre a importância das plantas típicas do semiárido para o meio ambiente através do teatro de bonecos de fantoche. “Foi uma aula diferente e divertida e a gente aprendeu sobre muitas árvores”, comenta.
A conservação das nascentes para a preservação do ecossistema também chamou a atenção dos estudantes. “A gente viu que o rio São Francisco é importante para a nossa região e que ele depende das árvores da caatinga para sobreviver. Preservando as plantas, a gente tem água e conserva a vida dos seres vivos”, concluiu.
Através da ações de educação ambiental nas escolas, que conta com a parceria da Secretaria de Estado da Educação por meio Serviço de Educação de Jovens e Adultos (Seja) e com um trabalho conjunto com o Campus Sertão da UFS, o projeto Opará: águas do rio São Francisco, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e pelo Governo Federal, já mobilizou cerca de 1300 participantes nos três primeiros períodos de execução, contemplando alunos, professores e trabalhadores/as rurais que moram no sertão de Sergipe e Alagoas. As atividades contemplam temáticas contextualizadas que incluem o empoderamento feminino, o estímulo à geração de renda por meio da economia criativa, o respeito aos direitos humanos e o fortalecimento da escola como espaço de construção coletiva entre o saber cientifico e o saber popular em defesa de práticas pedagógicas socioambientais e integradas que valorizem o meio ambiente e as comunidades locais.
“Com a parceria com o Projeto Ações de Educação Ambiental em Nossa Senhora da Glória, fortalecemos iniciativas socioambientais que aproximam a escola da universidade e que visam o envolvimento e conscientização da importância do uso racional dos recursos naturais em diálogo com a educação contextualizada com o compromisso de formar novas gerações de cidadãos críticos, protagonistas de uma mudança social integrada ao meio ambiente e a proteção e conservação da rica biodiversidade da caatinga e da cultura local”, explica Frankilin Modesto, coordenador de Educação Ambiental do Projeto Opará: águas do rio São Francisco.
O coordenador do Projeto Ações de Educação Ambiental em Nossa Senhora da Glória e professor do curso de zootecnia da UFS do Campus Sertão, Elias Alberto Gutierrez Carnelossi, também ressaltou a importância da parceria com o projeto Opará para promover ações coletivas de conscientização socioambiental das futuras gerações por meio da utilização sustentável dos recursos ambientais.
O professor ressaltou que o projeto atende quatro escolas municipais de ensino fundamental, com crianças do terceiro, quarto e quinto ano em parceria com a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente através de mobilizações sociais que envolvem o plantio de árvores, panfletagem, pontos de informações e atividade práticas diretamente com a comunidade em datas comemorativas, como Dia da Árvore, Dia Mundial da Água, Dia do Planeta Terra, Dia Mundial do Meio Ambiente.
“Pretendemos com estas ações ampliar o grau de desenvolvimento intelectual e moral e sua relação ao meio ambiente e os recursos naturais, que consequentemente afetam a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico regional. As ações teóricas e práticas têm como objetivo induzir à compreensão e despertar a percepção do indivíduo sobre a importância de ações e atitudes para a utilização consciente dos recursos naturais, conservação e preservação e uso sustentável e racional do meio ambiente em benefício da saúde e do bem-estar da população local. A ideia também é despertar a importância de que o trabalho de educação ambiental seja inserido na rotina da escola e que esta se torne um espaço educador, de reflexão, acessível, democrático, motivador, em que alunos e professores debatam sobre as melhores ações a serem desenvolvidas para que os recursos naturais continuem existindo e possam ser usufruído de maneira sustentável”, destaca Elias Carnelossi. A atividade foi encerrada na Escola Municipal Leôncio Aragão no Povoado Tanque das Pedras, em Nossa Senhora da Glória.
Kátia Azevedo
Jornalista do Projeto Opará: águas do rio São Francisco