Qui, 24 de dezembro de 2020, 11:24

Discurso de posse de Victor Hugo Sarmento como diretor do CampusITA
Victor Hugo Vitorino Sarmento
Professor Victor Hugo Sarmento durante o discurso de posse. (foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
Professor Victor Hugo Sarmento durante o discurso de posse. (foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)

A minha história não é muito diferente da de muitos filhos de nordestinos que saem da sua terra natal e vão para o “sul” procurando uma vida melhor para a sua família. Meu pai foi na frente, e tempos depois eu e minha mãe fomos atrás. Mal conseguia ver o meu pai, pois trabalhava o dia inteiro sempre pensando em colocar a comida na mesa e sempre preocupado que os seus filhos não trabalhassem, com medo de atrapalhar os estudos. "Quero dar aos meus filhos a oportunidade que eu nunca tive", ele dizia. Por muito tempo não entendi, e, como adolescente rebelde, não aceitava ter o meu pai sempre ausente. Confesso que eu não fui um adolescente fácil, sempre questionando e retrucando. Sempre dizia que se eu fosse meu filho, eu não teria paciência comigo mesmo, foi possível entender? Mas meus pais tiveram. Hoje, mais maduro, entendo tudo o que aquele homem fez por mim e agradeço a Deus por reconhecer isso com ele vivo, de dizer "pai, muito obrigado, o senhor é meu exemplo de vida, o senhor é o meu herói".

Sobre minha mãe, o que falar dessa mulher? Meu Deus, sempre foi uma dona de casa dedicada. Uma pena a carteira de trabalho não poder registrar o emprego mais divino e sublime que existe, “mãe”. Emprego esse que realizou com extrema dedicação e empenho. Quantas lágrimas não caíram dos olhos desta mulher quando eu demorava a chegar em casa. Quantas lágrimas toda vez que eu partia, seja para estudar na universidade em Araraquara , seja quando voltava para Sergipe. Até hoje, com 47 anos nas costas, ela chora toda vez que parto e isso me faz sentir um menino, este sim é o segredo da fonte da juventude. Ela sempre vinha com a célebre frase: "Deus que te proteja de frente, de banda, de costas". Não tenho como expressar a minha eterna gratidão a essa guerreira, e toda vez que ouço 'No que dia em que eu saí de casa” de Zezé di Camargo e Luciano, apesar de ser um rockeiro clássico, eu choro. Mãe, te amo, muito obrigado, quero ser sempre o seu menino, o seu orgulho.

Não poderia iniciar o meu discurso sem mencionar essas minhas referências de vida e de amor, 47 anos de dedicação à família, aos quatro filhos que hoje são pessoas de bem, cada um com suas características e sua individualidades, aos meus irmãos também muito obrigado pelas brigas e pelos bons momentos vividos. Amo vocês.

Bem, parece que foi ontem quando estava na sala do então reitor, professor Josué, sendo empossado e concretizando um sonho que iniciou em 1996: o de ser professor em uma instituição de ensino superior do Nordeste. Eu, como alagoano e filho de alagoanos valentes, determinados e honrados, sempre estudei em escola pública no estado de São Paulo. Um dia pensei: quero adquirir todo o conhecimento aqui, mas é para o Nordeste que quero voltar, quero contribuir para a minha gente, estar junto e mostrar a eles que todos podem chegar onde cheguei, independente das adversidades e desafios que venham a encontrar. Confesso que o alvo foi Alagoas, mas o acerto foi em Sergipe. Errei algumas centenas de quilômetros, mas foi erro mais acertado que fiz em toda a minha vida e não me arrependo um minuto sequer.

Ingressei no curso de bacharelado em Química no Instituto de Química da Unesp de Araraquara em 1996, foi a partir dali que eu tracei o meu caminho e as minhas metas de vida. Fiz mestrado, doutorado e pós-doutorado. Quando estava prestes a fazer um pós-doc na França, inclusive o dinheiro da Capes estava na minha conta, recebi um telefone da então coordenadora do Núcleo de Química do campus Professor Alberto Carvalho, professora Heloisa de Melo: "Agora você pode fazer planos". Aquela frase me marcou. Era a chamada para o início da minha trajetória acadêmica nesta egrégia instituição.

Desde que cheguei em Itabaiana, sempre tive desafios. Para começar, já no dia da minha posse, 7 de outubro de 2008 - não disse que parece que foi ontem? Após entregar a minha carta de apresentação, participei de uma aula de campo com a professora Iramaia, que já era professora voluntária do núcleo e que foi empossada no mesmo dia que eu. Fomos para o lixão de Ribeirópolis e para a Serra de Itabaiana, detalhe, de roupa social, do mesmo modo que estou agora. O meu sapato ficou marcado com todo o tipo de amostra, terra, lama, lixo, churume, etc.

Cheguei acelerado no campus, vindo de um centro de excelência consolidado como o IQ da Unesp/Araraquara, querendo trabalhar, mostrando vontade e determinação. Não conseguia em muitos momentos, e não foram poucos, fazer as coisas do meu modo. Era uma instituição recém-criada, com todos os seus problemas, mas também tinha suas qualidades (sempre tem). Não era possível realizar pesquisa de início, ministrava muitas aulas e até aquelas disciplinas que dizemos “professor nenhum gostava muito de ministrar” e que acabava sobrando para os novatos recém-chegados.

A adaptação não foi fácil, deixei família em São Paulo, mulher, filhos, a saudade era imensa e confesso que tiveram momentos nos quais pensei até em desistir. Mas como sempre digo, na nossa profissão nunca morreremos de tédio e vieram então as primeiras emoções. Como vim cheio de vontade, os colegas enxergaram em mim um bom perfil para coordenador de núcleo, substituindo a professora Heloisa, que se candidatou a primeira vice-diretora eleita pelo campus. Hoje eu entendo essa história de perfil para coordenador de núcleo dos meu colegas, mas deixemos de lado. Assim, em janeiro de 2009, ou seja, quase três meses após minha noemação, já era coordenador do Núcleo de Química do campus Professor Alberto Carvalho. Uma experiência incrivel, muitos erros, muitos acertos, muitas noites mal dormidas após reuniões calorosas, mas que valeram a pena. Com ajuda dos colegas do núcleo, completamos o quadro de 10 professores e fomos promovidos a departamento, o DQCI ao qual tenho toda minha gratidão e respeito aos colegas que passaram e que até hoje se encontram. Me tornei chefe de departamento até julho de 2013. O campus cresceu e, junto com ele, eu também. Creio que deixei marcas positivas e que são reconhecidas até hoje por toda a comunidade acadêmica deste campus.

Sempre do meu jeito, um pouco mais discreto e comedido, participei efetivamente de conselhos, colegiados e comissões. Foi pela minha atuação na Compitec e Compibic que fui convidado pelo então professor Marcus Eugenio, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, para atuar frente à Coordenação de Pesquisa (Copes) em março de 2015. Estava na minha zona de conforto, dando minhas aulas, fazendo a minha pesquisa e lá vai o professor Victor para mais um desafio. Com o apoio de uma ótima equipe, consegui vários feitos, aprovamos vários recursos de infraestrutura pelo Finep na ordem de milhões, organizamos os processos das bolsas Pibic, organização do sistema de registro dos grupos de pesquisa, dentre vários outros. Cheguei inclusive a ser pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação por 15 dias, substituindo o professor Marcus Eugenio durante as suas férias. Tive com isto, de modo breve, o privilégio de ter o meu nome estampado em diplomas de pós-graduação. Nesse dia, tirei uma foto e enviei para o meu pai e para minha mãe.

Fiquei na Copes até fevereiro de 2017 e, após isso, pensei em não participar tão cedo de cargos de gestão, queria me dedicar às aulas, pesquisa, publicação dos meus artigos e formar recursos humanos. Entretanto, como escrito no nosso glorioso hino nacional, “verás que um filho teu não foge à luta”, em outubro do mesmo ano, coloquei o meu nome à disposição no Conselho de Centro para ser o coordenador do Núcleo Integrado de Pesquisa e Pós-Graduação em Ensino e Ciência (Nippec), após uma conversa com professor Marcelo Alves Mendes, que aqui se encontra. Ele idealizou um novo Nippec e contou com a minha ajuda e experiência para sua execução. Agradeço desde já ao professor Marcelo, por toda a confiança depositada e todo o apoio que fazem o Nippec, atualmente, uma referência de pesquisa e pós-graduação no nosso campus.

Encontrava-me muito satisfeito com o meu trabalho, então veio a pandemia e, com ela, suas adversidades, a tristeza das mortes de pessoas próximas e não próximas, de não poder estar em contato com os familiares, na sala de aula, de não estar em contato com os colegas e com toda a comunidade. Além disso, juntamente com o contexto histórico que a UFS passa, procurei adquirir forças para poder fazer algo mais por ela, mas entendo que os tempos atuais não exigem apenas isso, mas também a capacidade de compreender situações, de clareza e nesse momento de questionamento e de reflexão pessoal. Juntamente com um grupo de pessoas que partilhavam os mesmos ideias, decidi colocar o meu nome à disposição para concorrer às eleições para diretor deste campus.

Mais um momento desafiador em que passa um filme pela minha cabeça de toda a trejatória e de todos os feitos alcançados até então. Ser eleito, por um processo democrático e com a mobilização de toda a comunidade acadêmica, é realmente algo muito belo de se ver e é de uma grande responsabilidade, e motivo de honra e alegria. Utilizando as palavras da professora Ana Rocha, ex-vice-diretora deste campus: “Esse é o momento de celebrar a vitória da unidade que criamos. Momento de reafirmar que o comprometimento com o coletivo venceu”.

Diante disso, alguns agradecimentos são imprescindíveis.

Em primeiro lugar, agradeço à minha esposa pelo amor, pela companhia nestes tempos de pandemia, que só nos uniu e fortaleceu, por me ajudar a levantar em um momento turbulento da minha vida, devolver minha autoestima e por me apoiar neste mais novo desafio. Te amo e desde já lhe peço desculpas e muita paciência pelas minhas ausências e pelo tempo que as atividades deste cargo irão exigir nos próximos quatro anos.

Agradeço também aos meus filhos pelo amor e carinho e tantas coisas que este tempo diminuto me impede declarar.

Agradeço à professora Joelma, a quem tenho o imenso prazer e honra de ter ao meu lado como vice-diretora, de uma energia positiva enorme, que tem um dom de usar a palavra para aconselhar, acalmar e, ao mesmo tempo, estimular e dar entusiasmo. Estou certo que juntos faremos uma boa gestão pelo nosso campus.

Agradecemos (agora no plural, professora Joelma, por favor, me permita) ao professor Eder em nome de todos os professores que não só acreditaram na nossa proposta e que se envolveram na nossa campanha, mas também aos que votaram na chapa concorrente. Foi um momento único, de discussão, de amadurecimento de ideias, respeitando a pluralidade e a democraria, mesmo em um momento tão adverso. Muito obrigado, professor. Sua experiência como ex-diretor contribuiu muito na elaboração do programa de gestão e nas mobilizações de campanha, que energia invejável!

Nesse contexto, gostariamos também de agradecer à professora Jeane, em nome de toda a comissão eleitoral, pela condução transparente, competente e imparcial. À chapa concorrente, formada pela professoras Valéria Priscila Barros e Maria Andrea Escobar, pelo comportamento ético e democrático

Agradecemos à senhorita Andrea Reis Barbosa em nome de todos os técnicos e funcionários, peças de fundamental importância e que sem eles a grande máquina chamada campus não funciona. Obrigado, Andrea, pela lealdade, sempre me assessorando e aconselhando nas questões administrativas e da vida.

Agradecemos ao professor Marcelo Mendes pela forma atenciosa, generosa e transparente como conduziu a transição, se disponibilizando para transmitir todas as informações relevantes. Aproveito para cumprimentá-lo pela condução e dedicação nos últimos 4 anos e sucesso em seus projetos futuros. Espero contar com seu apoio e experiência nas discussões e questões que envolvem nossa UFS, nosso campus.

Agradecemos a todos os discentes, motivo maior de nossa presença aqui.

Minha nomeação como diretor do campus Professor Alberto Carvalho respeita a decisão democrática da comunidade acadêmica. Hoje, infelizmente, estamos em um momento muito grave, com uma pandemia que me impede de cumprimentar calorosamente cada um de vocês.

Por isso, quero reafirmar os compromissos da direção com a comunidade universitária. Comprometemo-nos com uma gestão participativa, democrática, proativa, inovadora e responsável, que fortaleça a identidade acadêmica do campus Professor Alberto Carvalho e amplie sua qualidade técnica, pedagógica e científica dentro do cenário institucional da UFS, e produza impactos positivos na comunidade, com profundo respeito a diversidade de ideias, e da liberdade intelectual, didática e científica.

Esta direção sempre se posicionará em prol do que é correto, do que desejamos e sonhamos para o crescimento do campus, e vamos trabalhar para isso. Estaremos sempre atentos, em defesa do ensino público, gratuito e de qualidade, da autonomia universitária, dos direitos humanos e da democracia brasileira, mas nunca esquecendo da gentileza no trato das questões, do discernimento e do diálogo. Trabalharemos incansavelmente, esgotaremos todas as nossas energias no que for necessário para assegurar as melhores condições possíveis para o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como para a política de permanência estudantil – condição essencial para uma universidade inclusiva.

Estaremos atentos e com todo o cuidado que a situação requer no que tange ao retorno as atividades presenciais, sempre nos pocionando, discutindo e dialogando em busca das melhores condições para todos os segmentos da comunidade acadêmica deste campus. Pretendemos estar cada vez mais presentes na vida desta comunidade.

Encerro meu discurso com uma frase que eu ouvia nos tempos de minha graduação e utilizo como guia em todas as situações da minha vida e que é de autor desconhecido: “No final, tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não é o final” e eu não me cansarei nunca de buscar esse final.

Vamos ao trabalho. Muitíssimo obrigado.

Victor Hugo Sarmento é diretor do campus univeritário Professor Alberto Carvalho (CampusITA)


Atualizado em: Ter, 19 de janeiro de 2021, 13:05
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